A proposta desta modalidade em intervenção psicológica é proporcionar as crianças diagnosticadas com síndrome de Asperger à oportunidade de aprender a se comunicar e interagir o mais próximo das regras básicas de conduta. A Síndrome de Asperger é caracterizada por desvios e anormalidades em três amplos aspectos do desenvolvimento: interação social, uso da linguagem para a comunicação e certas características repetitivas ou perserverativas sobre um número limitado, porém intenso, de interesses. Crianças com Síndrome de Asperger (SA), podem ou não procurar por interação social, mas têm sempre dificuldades em interpretar e aprender as características da interação social e emocional com os outros. Uma das características mais marcantes destes pacientes é a dificuldade em aprender regras sociais, sendo assim, isto lhes deve ser ensinado de forma didática, assim como se aprende matérias normais, como matemática, português etc. Segundo Marc Segar, portador da síndrome que escreveu o livro: Guia de Sobrevivência para pessoas com Síndrome de Asperger, “os SA devem aprender cientificamente regras que os outros aprendem intuitivamente”.
A dificuldade de comunicação faz com que os SA apresentem prejuízos na maioria dos ambientes que participa. Na sala de aula, por exemplo, pode não aprender direito pela falta de habilidade de prestar atenção no momento propício, o que, muitas vezes, é designado como falta de interesse e desatenção. Porém podemos inferir que se a criança não entende os sinais não-verbais da professora, enquanto seus colegas instintivamente captam o sinal e ouvem a explicação. O ideal seria nestes momentos, a professora expresse, oralmente ao AS, a importância de prestar a atenção. E, num outro momento, ensiná-lo a identificar seus sinais não-verbais. Muitas vezes quando a criança acha o mundo real difícil de lidar ela se fecha num mundo de fantasias, dando a impressão de estar no “mundo da lua”.
A atitude dos que tem contato com os SA tem direta ligação com seus comportamentos. Antecipar acontecimentos, prevenir e principalmente não reagir aos seus comportamentos e sim agir mudando de foco de atenção, são algumas das inúmeras estratégias que podem ajudar a amenizar a ansiedade e a sensação de estar perdido que muitas vezes apresentam.
O próprio Hans Asperger, psiquiatra e pediatra Austríaco que deu nome a síndrome compreendeu a importância central da atitude do professor no seu próprio trabalho com crianças e podemos estender este conhecimento para todas as pessoas de sua convivência, inclusive na família. Ele escreveu em 1944: “estas crianças frequentemente mostram uma surpreendente sensibilidade à personalidade do professor (…) E podem ser ensinados, mas somente por aqueles que lhes dão verdadeira afeição e compreensão. Pessoas que mostrem delicadeza e, sim, humor. (…) A atitude emocional básica do professor influencia, involuntária e inconscientemente, o humor e o comportamento da criança.”
Ou seja, se é tratado com indiferença a probabilidade de querer chamar a atenção vai ser grande. Se, ao contrário, é colocada dentro das atividades a probabilidade de colaboração vai aumentar. Por isso é importante à ligação direta de um profissional qualificado com quem tem contato direto com os AS, para que todos estejam cientes das particularidades de cada um.
Para a intervenção proposta serão utilizadas técnicas do psicodrama para as intervenções, passando assim a agir diretamente sobre os comportamentos apresentados. O foco será ajudá-los a construir relações interpessoais de forma acertada, intervindo nos comportamentos desajustados exatamente no momento que acontece. Outra possibilidade é remontar a cena num momento posterior para que a paciente possa entender conscientemente o resultado de seu comportamento. Fazemos isso não apenas auxiliando-o na comunicação/interação, mas nas suas motivações, pensamentos e sentimentos que são em sua maioria ainda desconhecidas, trazendo ao consciente aquilo que ficou explícito, mas não dito, coisas que podem de fato ter impacto positivo nas suas inter-relações. É combinando métodos de ensino e psicologia que traremos para o concreto o ensino de comportamentos e sinais não-verbais do ambiente, e mostrando, didaticamente, como fazer amigos, por exemplo. Sempre de uma forma espontânea, divertida e respeitando o momento e história individual.
As técnicas do psicodrama tem grande eficácia no trabalho com SA. "Psicodrama é um método de investigação e intervenção de problemas psicológicos e sociais fazendo com que os indivíduos re-atuem em eventos relevantes das suas vidas ao invés de apenas falar sobre estes eventos. Proporcionando assim treino e consciência dos seus comportamentos através da técnica do role-playing refazendo a cena que aconteceu o comportamento desajustado para que a pessoa possa se ver ou ver como o outro percebeu/interpretou seus comportamentos. Com isso crianças SA poderão aprender como interpretar emoções, comportamentos, as intenções dos outros, antecipar o resultado de suas ações e palavras para prever conseqüências.
Após a criança ter sido ensinada a esperar sua vez de falar numa conversa ou mesmo mudar de assunto, eles passaram a responder de maneira mais apropriada aos contextos que anteriormente. (Chin & Bernard-Opitz, 2000).
Com o uso das técnicas referidas, as pessoas terão a oportunidade de melhorar sua habilidade de modular seus comportamentos para que se enquadrem nas suas necessidades, das dos outros e, que estejam dentro das regras sociais do contexto. Referimos aqui às pessoas, pois com o uso do psicodrama nas intervenções todos aqueles que tem contato direto com crianças SA também terão a oportunidade de se colocar no lugar deles para entendê-los melhor.
ESTRUTURA DO TRABALHO DE INTERVENÇÃO
Intervenções em caráter de atendimento domiciliar. Os atendimentos serão realizados em casa, uma ou duas vezes por semana, durante uma hora e meia, ou como combinado com a família e disponibilidade de horário do paciente e do profissional.
Método
1 – Entrevista inicial com os pais;
2 – Avaliação psicodiagnóstica com testes específicos.
3 – Desenvolvimento de um plano de ação, onde será traçado o foco de atendimento. Momento do planejamento dos aspectos individuais e familiares a serem trabalhados em um determinado período de tempo;
4 – Atendimentos domiciliares;
5 – Reuniões periódicas com a família no consultório;
6 – Intermediação com a escola quando assim necessitar para garantir a aprendizagem efetiva.
Os objetivos dos atendimentos serão ensinar as regras de comportamento, comunicação não-verbal, como esperar sua vez, como começar uma conversa, ou seja, serão trabalhadas as dificuldades particulares de cada crianças, diagnosticadas através da avaliação inicial e a pedido dos pais, respeitando sua individualidade e tempo.
A didática será exatamente como se ensina uma disciplina da escola, com caderno, fotos, figuras, produção de cartazes etc.
O trabalho será pautado na espontaneidade, ou seja, poderão ser trabalhadas inúmeras possibilidades desde que no contexto da criança e da família, sempre focada na necessidade da família e da criança.
O trabalho de orientação a família será realizado de maneira informal antes ou depois dos atendimentos, porém uma consulta mensal no consultório para orientações aos pais ou responsáveis será necessária.
RELEVÂNCIA DO TRABALHO DOMICILIAR
A importância de um trabalho efetivo, continuo e domiciliar está pautado em dois eixos. Crianças com dificuldade de abstração são beneficiadas com trabalhos domiciliar, pois as intervenções acontecerão dentro de seu contexto, na ordem do concreto. Estando presente no momento que acontece a situação teremos a possibilidade de entender o comportamento global, todas as facetas que fazem parte daquela resposta comportamental, avaliar e atuar sobre o fato junto a criança e familiares envolvidos os orientando sobre os comportamentos adequados e demonstrando diferentes maneiras de resolver situação, tanto para a criança quanto para quem convive com elas.
Segundo, a qualidade nos levantamentos de dados sobre a criança em seu espaço familiar é grandiosa. A análise, planejamento e execução das ações serão beneficiadas pela proximidade. Uma coisa é ouvir o relato de um comportamento desajustado e outra é estar presente no momento que acontece e poder intervir.
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